sábado, 12 de janeiro de 2008

Entendes o que lês ?

"Allahu Akbar, Allahu Akbar." "Deus é grande, Deus é grande."

Essa é a forma de os mulçumanos chamar os fiéis para a oração que se impõe logo ao amanhecer. Sentei-me no chão para falar com rapazinho que estava lendo o alcorão. Tinha aberto no Surah, o mais famoso livro santo do islamismo e recitava com evidente orgulho: "Bismillah arrahman arrahim, alhamdulilah, arrabi alalamin." Para sua grande surpresa, repeti com ele as palavras e um sorriso alegre encheu-lhe o rosto. Um cafir, um infiel, sabia ler e recitar o alcorão!

Depois de um tempo escutando-o recitar, começamos a conversar em francês e perguntei-lhe:

- Entendes o que lês?

- Não, nenhuma palavra! Nenhuma palavra! - disse-me, surpreendido pela pergunta.

- Gostaria de explicar, mas o mais importante é saber dizer bem e não entender o que significa.

- E com isso regressou à leitura, à recitação cega da escritura de uma língua que lhe era estranha, imaginando que assim estava agradando a Deus e conhecendo-o mais.

Hoje em dia dispomos de traduções da Bíblia em nossa própria língua e não temos só uma, mas muitas traduções. Já vivemos nos dias em que a missa só se dizia em latim e era considerado "pecado" ler a Bíblia em nossa própria língua. Muitos foram os que pagaram com sua própria vida para que a Bíblia fosse traduzida nas línguas dos povos e chegasse aos que desejavam lê-la, para hoje podermos desfrutar desta liberdade de culto e leitura.

Não é assim com o islamismo. O alcorão é "intraduzível", sendo escrito em "língua celestial". Nunca se encontrará uma tradução do alcorão, somente há comentários e "interpretações". Uma versão, por exemplo, se intitula "O significado do glorioso alcorão", mas não se considera uma tradução. Não deve nem pode ser traduzido, basicamente porque o conceito islâmico da inspiração ou da revelação não o permite. Não tem nada a ver com o conceito cristão.

Segundo o islamismo, Maomé não foi inspirado, mas recebeu uma revelação do anjo Gabriel, o qual estava lendo o "livro-mãe" que existe no céu, em árabe, evidentemente. Ali não entram fatores humanos, temporais, nem socioculturais. O alcorão é uma cópia terrena do original celestial, eternamente coexistente com Deus. Como então poderia ser expresso em línguas puramente humanas? Estamos certos que isso é um dos pontos mais fracos da teologia islâmica, a existência de uma eterna e imutável "Palavra de Deus" como Allá, aproximando-se perigosamente do maior pecado segundo o islamismo, shirq ou blasfêmia, tornando algo ou alguém igual a Deus.

Façamos um parêntese aqui. Que coisa é esta de uma língua celestial? Não seria estranho Deus falar no dialeto árabe de Maomé, uma língua semita da península arábica do século7? Ou qualquer outra língua, incluindo o hebraico, limitado no tempo e no espaço a um grupo restrito de pessoas? Estamos certos que não existe "o idioma sagrado", já que a Bíblia demonstra um desenvolvimento constante neste idioma e os escritos mais novos da Bíblia refletem um "hebraico" bem distinto do que se usava nos primeiros séculos. Em qual idioma, então, fala Deus? Será que Deus sempre falou assim? Se, na realidade, a língua é produto de uma evolução de muitos séculos?

São muitas as experiências feitas para demonstrar que Deus fala este ou aquele idioma, desde o hebraico (evidentemente!), o árabe, passando pelo inglês, o alemão e o chinês. No século 8, o imperador romano Frederico II de Hohenstaufen copiou a metodologia usada pelo faraó Psametico do Egito, dois mil anos antes de nossa era, ao criar duas crianças por um criado surdo e mudo, supondo que assim revelaria a verdadeira língua do céu. Aprenderam a comunicar-se com um método de ruídos e morreram antes de pronunciar uma só palavra. A mesma experiência tiveram posteriormente crianças criadas por um governante turco, tentando demonstrar que o árabe era a língua do céu.

Na Bíblia, cada vez que Deus fala, usa a língua do seu ouvinte. Consideremos o Espírito fala a Ananias ou a Palavra de Deus que vem a Abrão. Não houve necessidade de ensinar-lhes primeiramente uma língua celestial; Deus se comunicou na língua deles. E que é isto de línguas "angelicais"? Do mesmo modo, quando escutamos um anjo falar por meio das páginas da Bíblia, seja em sonho, visão ou aparência real, fala no idioma da pessoa que recebe a sua mensagem. Vê-se, então, grande capacidade lingüística ou talvez a comunicação do céu é mais ao coração e não há necessidade de passar pelo cérebro, boca e ouvido, como fazemos.

Voltamos ao nosso tema. Podemos analisar que não é só o alcorão que é intraduzível, mas também toda a prática da religião islâmica está encerrada nos conceitos e hábitos do século 7. A vestimenta, as leis, as relações humanas no mundo, tudo não passa somente de uma imposição e pretensões de um mercador árabe daquela época (Maomé). Segundo esse conceito, Deus revelou a sua Palavra eterna e intraduzível neste meio e a sociedade humana ideal ficou então "parada" naquele momento.

Graças a Deus que nosso conceito da revelação não nos leva a estas conclusões, mas nos permite uma contextualização da mensagem eterna do Evangelho à nossa realidade temporal, incluindo a tradução da sua Palavra. Temos certeza de que Deus inspirou os autores bíblicos, mas cada um escrevia em sua própria língua, colocando também o seu estilo único em seus escritos. O grego de Marcos não é o mesmo de João, nem o hebraico de Isaías é o mesmo de Jeremias. Usaram a linguagem normal e corrente, impregnada dos costumes socioculturais dos seus tempos e de sua personalidade.

Por causa desta variedade de idiomas da Bíblia, entendemos também que Deus autorizou o processo de tradução de sua mensagem em todas as línguas. Não existem línguas "sagradas" mais aptas para a expressão religiosa que as outras. O latim não é "veículo santo" para a mensagem bíblica, só era a língua vernácula documentada há 600 anos antes de Cristo e usada pelo povo romano, e nada mais. Nem o grego clássico, o dialeto atiço dos escritores famosos, mas sim o Koiné ou "comum" (da palavra grega Koinonia ou "comunhão"), a língua do povo.

Deus deseja que a sua Palavra chegue a todas as línguas, a todos os povos, raças, tribos e nações, para que todos possam entender o que lêem e não ficar em vãs repetições. Graças ao Senhor por isso!

4 comentários:

Ibrahim Mustafa Ammar disse...

Assalamu Aleikum (Que a Paz de Deus esteja com você).
Bem, vejo que o seu interesse em evidenciar o Islamismo não é para compreendê-lo, mas sim para atacá-lo.
Um ponto muito importante é sobre a recitação do Sagrado Alcorão. A língua que o Alcorão foi revelada é o árabe. Aqui cabe uma explicação: Deus se manifesta na linguagem do povo que ele quer ele quer enviar a mensagem. Foi assim com Abraão, Noé, Moisés, Jesus e Muhammad. Deus é Absoluto, portanto não há dissociação entre Ele (ser trancedental) e sua orientação (livro). Se qualquer ser humano deseja conhecer o Alcorão e não domina o árabe, essa pessoa tem acesso a uma tradução dos significados do Alcorão. Essa tradução não é o Alcorão, mas sim, uma ponte que pode despertar a fé do leitor. Constantemente o Islamismo incita ao muçulmano buscar conhecimento. Um item dessa busca é ler o Alcorão na sua origem, o árabe. O Alcorão não pode ser traduzido, pois essa ação humana intervém na orientação original de Deus, ou seja, a altera, pois não se consegue transcrever toda a fidelidade de significados que ali estão expressos. Essa ação de não traduzir permite o Alcorão Sagrado permancer incólume e livre de alterações ou erros de tradução, o que ocorreu com a Bíblia e que está explícita na história cristã, motivos de tantas versões da Bíblia e confusão de tantos crentes.
Agora, se uma pessoa está recitando o Alcorão e não sabe o que está fazendo, sinto muito, é semelhante ao Cristão que está ouvindo Jesus em pessoa lhe falar e não saber o que está ouvindo, ou ler uma incíclica Papal em italiano e não entender uma palavra. Ela deve buscar conhecimento e se aperfeiçoar. Deus ama a pessoa lúcida que procura evoluir e aprender, não a pessoa que se está estagnada e apenas reclama da sorte.
Não quero aqui provocar uma discussão teológica, mas trazer um pouco de esclarecimento sobre o porque o Alcorão não pode ser traduzido e incitar aos leitores do blog a buscar conhecimento verdadeiro, na fonte. Não em depoimentos isolados que não refletem a realidade dos muçulmanos.

Ibrahim Mustafa Ammar disse...
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Ibrahim Mustafa Ammar disse...
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Ibrahim Mustafa Ammar disse...
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